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Quimerismo humano: a condição genética que te transforma em duas pessoas!

Quimerismo demonstrado em uma mulher com olhos de cores diferentes

Você já ouviu falar de quimerismo? Sabia que você pode ter dois DNAs diferentes em um só corpo? Parece coisa de novela, e até foi tema de uma recentemente, mas o quimerismo humano é uma condição genética real, embora rara. Ficou curioso? Então vem comigo que eu te explico tudo sobre esse fenômeno!

Há pouco tempo a teledramaturgia brasileira tornou famoso o quimerismo. A novela “Travessia”, da TV Globo, apresentou um drama no qual o exame de DNA não comprovou que uma mãe não tinha os traços genéticos do seu filho e, por isso, não foi reconhecida como a mãe biológica. Posteriormente, na trama da novela, confirmou-se que, de fato, a personagem era a verdadeira genitora. Mas como isso seria possível? O resultado atípico do exame aconteceu por se tratar de um caso de quimerismo.

Quimerismo é uma condição genética rara em que um indivíduo possui dois ou mais conjuntos distintos de DNA, originários de diferentes zigotos. Em humanos, isso significa que uma pessoa pode ter duas linhagens celulares diferentes no corpo, ou seja, duas sequências genéticas distintas em diferentes grupos de células. Assim, um indivíduo quimérico tem dois DNAs, como se fosse duas pessoas em uma só. Embora seja uma condição genética, o quimerismo não é hereditário, o que significa que não é necessariamente transmitido de pais para filhos.

A condição, embora rara, já foi documentada. Por volta de 2002, dois casos reais de quimerismo atraíram atenção na comunidade científica e na mídia. Nos Estados Unidos, Karen Keegan, residente de Boston, descobriu possuir dois tipos distintos de DNA ao realizar exames de compatibilidade genética para um transplante de rim. Essa descoberta revelou uma incompatibilidade com a maternidade biológica de dois de seus três filhos. Outro caso relevante é o de Lydia Fairchild, de Washington, que quase perdeu a guarda de seus filhos após um teste de DNA indicar uma incompatibilidade com a maternidade. Mais tarde, confirmou-se que ela era uma quimera, o que explicou os resultados atípicos dos exames.

O quimerismo ocorre devido à fusão de dois zigotos (embriões no início do desenvolvimento) em um só. Se essa fusão ocorrer após os quatro primeiros dias, podem formar-se gêmeos siameses. Sem a fusão, teríamos gêmeos não idênticos, ou bivitelinos, originados de óvulos e espermatozóides distintos. Ao contrário dos gêmeos idênticos, que compartilham o mesmo DNA, os bivitelinos possuem sequências genéticas diferentes, como irmãos comuns. Se os zigotos fundidos tiverem o mesmo sexo, o indivíduo terá esse sexo biológico e pode viver sem saber da condição. No entanto, se os zigotos forem de sexos diferentes, a pessoa pode ser intersexual.

Na mitologia grega, a Quimera é uma criatura composta de partes de diferentes animais, normalmente descrita com a cabeça de um leão, o corpo de uma cabra e a cauda de uma serpente. A figura da Quimera representa a ideia de algo impossível ou a combinação de elementos díspares, simbolizando o hibridismo no caso humano.

Indivíduos com quimerismo podem apresentar uma combinação única de características físicas, refletindo a mistura de diferentes constituições genéticas. Essa condição pode resultar em um mosaico de traços, como olhos de cores distintas, diferentes grupos sanguíneos, áreas de pele com tonalidades variadas e diferenças na textura e cor dos cabelos. Em casos mais complexos, o desenvolvimento dos órgãos genitais pode ser afetado, apresentando características de ambos os sexos. A presença de células geneticamente distintas também pode representar um desafio em casos de transplante, aumentando o risco de rejeição.

A confirmação do quimerismo em humanos exige uma abordagem diagnóstica abrangente, envolvendo diferentes técnicas de análise genética. A detecção de múltiplas linhagens de DNA em um indivíduo não se resume a um único exame, mas sim a um conjunto de investigações que se complementam. A análise de diferentes tecidos corporais, como sangue, pele e saliva, é fundamental para mapear a distribuição das distintas sequências genéticas. Métodos como a tipagem de HLA, a hibridização in situ fluorescente (FISH) e a reação em cadeia da polimerase (PCR) são frequentemente empregados para identificar e caracterizar as diferentes populações celulares presentes.

O quimerismo pode ser natural ou artificial e ocorre em animais, plantas, humanos e até mesmo em vírus. Aqui estão os principais tipos de quimerismo humano:

Microquimerismo

Durante a gestação, ocorre uma constante troca de células entre a mãe e o feto, através da placenta. Essa comunicação celular, essencial para o desenvolvimento fetal, também pode resultar na presença de células fetais na circulação materna e, em menor grau, de células maternas no feto. Em gestações gemelares, essa troca celular também ocorre entre os fetos. Logo após o parto, é comum encontrar pequenas quantidades de células fetais na corrente sanguínea materna, um fenômeno que, na maioria dos casos, se resolve espontaneamente. No entanto, a persistência dessas células tem sido associada a potenciais efeitos tanto positivos, como em processos regenerativos, quanto negativos, como em certas doenças autoimunes.

Quimerismo Partenogenético

A reprodução sexuada normalmente requer a fusão de dois gametas, um masculino e um feminino. A partenogênese, um processo em que um gameta feminino se desenvolve sem fertilização, duplicando seu próprio material genético, é um fenômeno comum em alguns organismos, como certas espécies de algas, plantas e até mesmo alguns animais invertebrados. No entanto, a ocorrência natural de partenogênese completa em mamíferos é extremamente rara. Em casos excepcionais, um embrião partenogenético pode se fundir com um embrião fertilizado normalmente, resultando em um indivíduo com material genético derivado tanto dos pais quanto do gameta partenogenético.

Quimerismo Tetragamético

Em gestações múltiplas, como em casos de gêmeos, pode ocorrer um fenômeno em que um dos embriões, por algum motivo, interrompe seu desenvolvimento. As células desse embrião são então reabsorvidas pelo embrião sobrevivente. Como resultado, o indivíduo que continua se desenvolvendo incorpora o material genético do embrião reabsorvido, além do seu próprio. Dessa forma, esse indivíduo possui material genético derivado de quatro gametas diferentes, caracterizando o quimerismo tetragamético.

O quimerismo introduz complexidades na interpretação de testes genéticos, especialmente em casos de paternidade. A presença de diferentes linhagens celulares em um indivíduo quimérico pode resultar em resultados de DNA que não correspondem aos filhos, potencialmente confundindo a relação biológica. Embora o exame de DNA continue sendo uma ferramenta importante, inclusive com previsão legal sobre a recusa em realizá-lo, a ocorrência de quimerismo exige uma análise mais abrangente, considerando outros fatores e, se necessário, testes com outros membros da família, como os avós. Essa relativização busca evitar injustiças na determinação da paternidade e seus consequentes direitos.


E você curioso de plantão, sabia tudo isso sobre o quimerismo?

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1 comentário

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ruthpmont@gmail.com

Nunca ouvi falar.

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