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Behemoth e Leviathan: Entre Mitos, Traduções e o Cosmos Bíblico

Behemot e Leviatan

 A Bíblia não é apenas um texto sagrado, mas um mosaico de narrativas que dialogam com mitos antigos, traduções controversas e símbolos que transcendem o tempo. Entre eles, Behemoth e Leviathan se destacam como criaturas que desafiam interpretações literais, revelando camadas de significado teológico, cultural e até político. Vamos mergulhar nesse enigma!


Descrição Bíblica (Jó 40:15-24):
Deus descreve Behemoth como uma criatura que “alimenta-se de grama como um boi” (v. 15), com “força nos lombos” e “vigor nos músculos do ventre” (v. 16). Sua cauda “balança como um cedro” (v. 17), e “os ossos são como tubos de bronze” (v. 18).

Polêmica Tradutória:
A palavra hebraica בְּהֵמוֹת (Behemoth) é um plural intensivo de בְּהֵמָה (b’hemah, “animal”), sugerindo algo monstruoso. A descrição da “cauda” gerou debates: alguns tradutores medievais, como na Vulgata Latina, interpretaram como “pênis”, associando-a ao hipopótamo, animal ligado ao deus egípcio Seth. Já a Bíblia King James manteve “tail” (cauda), reforçando a imagem de um ser colossal, talvez um dinossauro para criacionistas modernos.

Conexões Culturais:

  • No Egito Antigo, o hipopótamo era símbolo do caos, combatido por deuses como Hórus.
  • Na Mesopotâmia, a figura de Bull of Heaven (Touro Celeste), da Epopeia de Gilgamesh, ecoa a ideia de uma besta indomável.

Descrição Bíblica (Jó 41:1-34, Salmo 104:26, Isaías 27:1):
Uma serpente marinha com “escamas justapostas como selos” (Jó 41:15), “dentes terríveis” (v. 14) e que “faz ferver o abismo como uma panela” (v. 31). Isaías profetiza que Deus “matará o Leviatã, a serpente veloz” (Is 27:1), ligando-o ao caos primordial.

Traduções e Interpretações Controvertidas:
A frase “seus espirros faíscam luz” (Jó 41:18) foi traduzida no grego da Septuaginta como “sua respiração lança carvões em chamas”, inspirando a imagem de um dragão cuspidor de fogo. Já a Bíblia de Jerusalém opta por “seu hálito acende brasas”, mantendo ambiguidade. Para alguns acadêmicos, como John Day (God’s Conflict with the Dragon and the Sea), o Leviathan é uma releitura hebraica de Lotan, o monstro de sete cabeças do mito cananeu de Baal.

Paralelos Mitológicos:

  • Tiamat (Babilônia): Dragão do mar derrotado por Marduk na Enuma Elish.
  • Jormungandr (Nórdico): Serpente marinha que circunda o mundo, inimiga de Thor.
  • Apophis (Egito): Serpente do caos combatida por Rá todas as noites.

A luta contra Leviathan e Behemoth reflete um arquétipo universal: a divindade que domina forças caóticas para estabelecer a ordem. No Salmo 74:13-14, Deus “esmagou as cabeças do Leviatã” e o deu “como alimento às criaturas do deserto”, ecoando mitos de criação como o Genesis vs. Enuma Elish.

No Livro de Enoque (apócrifo judaico), Behemoth e Leviathan são reservados para um banquete no fim dos tempos (Enoque 60:7-9). Já o Midrash Rabbah (comentário rabínico) descreve que, no Messias, “os justos vestirão couro de Leviathan” como troféu da vitória divina.


  1. Leviathan na Política: Thomas Hobbes usou o monstro como metáfora do Estado absoluto em Leviatã (1651), simbolizando o poder que contém o caos social.
  2. Behemoth no Cinema: A série Evangelion reinterpreta as criaturas como “Anjos” apocalípticos, fundindo misticismo e ficção científica.
  3. Ecoteologia: Alguns estudiosos veem Behemoth e Leviathan como símbolos da natureza indomada, desafiando o homem a reconhecer sua pequenez.

Essas criaturas revelam como a Bíblia dialoga com mitos antigos, adaptando narrativas para afirmar a supremacia de Yahweh. As controvérsias de tradução mostram que cada versão carrega visões de mundo — seja literalista, simbólica ou política.

E você curioso? Acredita que são metáforas do caos cósmico? Ou seriam animais reais descritos poeticamente? Ou talvez sejam vestígios de mitos pagãos reformulados?

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