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A inversão dos polos magnéticos pode causar o Apocalipse?

Recentemente a internet tem sido bombardeada por uma série de artigos sobre as consequências nefastas de uma possível iminente inversão magnética dos polos da Terra. A notícia vem causando alarde. Muitas especulações controversas variam da total impossibilidade de sua ocorrência até o extremo das sugestões de preparação para o caso de um apocalipse magnético.

Nós do CdV mergulhamos no tema “inversão dos polos magnéticos da Terra” para descobrir o que há de verdade sobre essa curiosidade

É amplamente aceito que o núcleo da Terra é formado por uma combinação de níquel (Ni) e ferro (Fe), referida como NiFe. Esse núcleo foi estabelecido nos primeiros estágios da formação do planeta, cerca de 4,5 bilhões de anos atrás. Durante esse período, a Terra era uma massa incandescente de minerais em estado pastoso. Com o resfriamento gradual do planeta, os materiais mais densos, como o ferro e o níquel, separaram-se dos materiais mais leves. Os mais densos se dirigiram ao centro do planeta devido à gravidade, formando um núcleo metálico. Esse núcleo possui uma parte interna solidificada (núcleo interno) e uma parte externa líquida (núcleo externo). É o atrito dessa parte líquida sobre a sólida que forma o campo magnético do planeta.

Porque ele proporciona uma proteção contra os ventos solares, que são fluxos constantes de partículas carregadas (principalmente prótons e elétrons) que emanam do Sol. Sem o campo magnético da Terra, essas partículas poderiam erodir a atmosfera, levando-a a se dispersar no espaço. Marte, por exemplo, tem um campo magnético fraco e uma atmosfera muito fina. Isso evidência de que perdeu grande parte de sua atmosfera por causa do vento solar.

Além disso, o campo magnético desvia as partículas carregadas ao redor do planeta, criando zonas chamadas de cinturões de Van Allen. Neles essas partículas ficam aprisionadas e impedem que atinjam a superfície terrestre diretamente.

Ao atuar na preservação da atmosfera, o campo magnético garante a retenção de gases essenciais como oxigênio e nitrogênio, fundamentais para a existência de vida. A atmosfera é responsável por regular a temperatura do planeta, filtrar radiações prejudiciais e manter as condições necessárias para a água líquida, que é vital para a vida. Por conseguinte, a manutenção da atmosfera terrestre permite um clima estável e um ecossistema equilibrado. Qualquer alteração significativa na magnetosfera poderia ter consequências dramáticas para o clima e, por extensão, para todas as formas de vida na Terra. 

A resposta é sim! Muitos estudos no campo da geofísica apontam para cenários de um “apagão digital global” até uma extinção planetária em massa. Nos períodos intermediários do processo de inversão dos polos, o campo magnético tende a ser errático. Por consequência, isso diminui sua intensidade e compromete a proteção proporcionada em relação às explosões solares e raios cósmicos que constantemente nos bombardeiam com partículas eletricamente carregadas.

Outro ponto é que o aumento dessa radiação, causado pela menor intensidade da magnetosfera, pode afetar os seres vivos desde o nível celular. Tal fato causa alterações genéticas e até abrangentes impactos em ecossistemas inteiros. No ser humano e em outras espécies que não contam com alguma proteção cutânea, a destruição da camada de ozônio proporcionaria queimaduras e câncer de pele. 

Alguns seres vivos que utilizam a magnetorecepção (capacidade de detectar campos magnéticos), podem sofrer até a extinção. Por exemplo, é o caso das aves migratórias, que usam o campo magnético da Terra como uma bússola para se orientar. Os salmões também, durante as longas viagens, a utilizam para procriação, quando migram para os lugares de reprodução e desova.

Na vida humana, o ataque de íons dos raios cósmicos e solares causaria a queima das placas de circuitos amplamente usadas em todos equipamentos. Tal fato geraria um apocalipse digital, levando a humanidade literalmente às trevas. Imagine a convulsão social mundial causada por um efeito “cisne negro” desta magnitude! Satélites destruídos, aviões caindo, carros parados, navios à deriva, sistemas de GPS e comunicações offline, tudo inoperante! Em suma: os processos tecnológicos essenciais para o nosso modo de vida moderno completamente fora de funcionamento! Imaginem todos os países tendo que retroceder para o uso de sistemas mecânicos analógicos! Seria um cenário totalmente caótico!

Além disso, são extremamente destrutivos os abalos climáticos e as tempestades de raios. A radiação espacial, ao alcançar a Terra sem qualquer tipo de proteção, causaria a separação das partículas de ar na atmosfera, liberando elétrons e gerando luz, em um processo conhecido como ionização. Sendo assim, o ar ionizado destruiria a camada de ozônio, provocando uma série de mudanças climáticas globais, além de tempestades magnéticas generalizadas. Dessa forma, a tendência da ocorrência de grandes queimadas florestais seria assombrosa!

Estudos inferem que há cerca de 42 mil anos, um fenômeno dessa natureza pode ter desencadeado uma série de mudanças ambientais. O fenômeno ocasionou a possível extinção dos neandertais e da megafauna vigente. Essa inversão temporária ficou conhecida como Evento de Laschamp, que perdurou cerca de 440 anos. Durante o evento, o campo magnético da Terra declinou para um mínimo de cerca de 5% de sua força atual e se inverteu. Como decorrências do evento, houve uma significativa diminuição do ozônio atmosférico. Logo, mudanças na circulação atmosférica, além do bombardeamento da Terra por raios cósmicos, resultaram em uma maior produção dos isótopos cosmogênicos berílio-10 e carbono-14. Tais mudanças radioisotópicas comprometeram a datação (tipo carbono 14) e a análise sobre o impacto real desse fenômeno nas mudanças ambientais globais. Isso tem dificultado uma análise mais profunda, pela falta de datação.

Em recente publicação, os geofísicos da revista “Science” afirmam que o polo magnético, no hemisfério norte, está se movendo rapidamente. Portanto, esse fenômeno aliado à redução do campo magnético da Terra (em aproximadamente 9% nos últimos 170 anos) sugere a possibilidade de uma inversão iminente e repentina.

Por fim, pode-se inferir que apesar das inversões dos polos serem bem documentadas pela comunidade científica, sua regularidade e previsibilidade permanecem incertas. Desde o primeiro registro em 1831, observa-se que os polos magnéticos não são estáticos e se deslocam anualmente. Ultimamente, esse movimento tem acelerado, levantando dúvidas e despertando apreensão a respeito de quando a próxima inversão ocorrerá e que consequências trará para a humanidade.

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1 comentário

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ruthpmont@gmail.com

Já aconteceu antes e pode acontecer de nove.

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